Saawariya (Amado/a) é um filme bem tipicamente bollywoodiano, ainda mais tendo sido dirigido por Sanjay Leela Bhansali, que em sua curta filmografia, dirigiu dois dos filmes de maior sucesso de público e de crítica na história de Bollywood: Devdas e Black.
Embora eu tenha feito um super elogio para o filme Black, o mesmo não foi dispendido na minha crítica a Devdas, mas pouparei Saawariya. Pra começar, neste filme Sanjay Leela Bhansali seguiu o seu estilo e fez um filme cem por cento em estúdio, com cenário propositadamente exagerado e atuações também propositadamente forçadas. Além disso, o filme se passa inteirinho à noite, facilitando questões de cenário e iluminação. Não que eu não goste disso, um filme pode ser muito bem feito dessa maneira. Aliás, eu gostei de Saawariya, eu poderia dizer que ele é um filme bem bonitinho, mas não passa muito disso. Os personagens são caricatos, o cenário é caricato e quase surreal até, tem uma boa dose de song-and-dances no meio das duas horas de filme, e é uma simpática história de amor-utopia.
E eu diria que, talvez, as atuações dos dois então estreantes Ranbir Kapoor e Sonam Kapoor (que fizeram os protagonistas) foram bem importantes para o filme. Eu digo isso pensando na ideia inicial de Sanjay de colocar como protagonistas Salman Khan e Rani Mukerji (que acabaram sendo coadjuvantes). Acho que a aposta de Sanjay de colocar rostos desconhecidos para os papéis principais foi uma boa sacada, contribuindo mais ainda com o clima bucólico-surreal e mesmo delicado da trama. E esse nem é o estilo de Sanjay, já que em Devdas os protagonistas foram nada mais que Shahrukh Khan e Aishwarya Rai e em Black foram Amitabh Bachchan e a mesma Rani Mukerji que aparece de novo aqui, como coadjuvante. E por Saawariya, Ranbir Kapoor levou o prêmio de melhor ator estreante no Filmfare Awards.
A história do filme é baseada no livro Noites Brancas do russo Fiodor Dostoievski, conforme é dito assim que o filme começa. Toda a trama se passa numa cidade fictícia e é narrada por Gulabji (Rani Mukerji), uma das mais conhecidas prostitutas locais, que conta então a história de Ranbir Raj (Ranbir Kapoor). Raj é um misterioso rapaz que aparece na cidade dizendo ser músico e logo começa a trabalhar no bar RK, o preferido de Gulabji, que se encanta pelo ingênuo e inocente músico. Procurando um lugar pra morar, Raj encontra a pensão de Lilian (Zohra Segal, na época com 95 anos), uma simpática velhota, que ele logo apelida de Lilipop. Os dois acabam por se adotarem como mãe e filho.
Andando pela cidade numa noite (sempre é noite no filme, ok), Raj esbarra com uma misteriora mulher que está chorando sobre uma ponte. Ele logo descobre que ela é Sakina (Sonam Kapoor), mas não consegue entender o porquê da tristeza em seus olhos. Obviamente, no mesmo instante ele apaixona-se por ela, mas quando decide por revelar seu amor, descobre que ela espera há um ano por seu grande amor, Imaan (Salman Khan). Raj, no entanto, não consegue disfarçar seu sofrimento e declara-se para Sakina, dizendo que Imaan jamais apareceria.
Mas eis que o final não é bem favorável a ele, embora, confesso, eu tenha achado bem bonitinho na maneira com que aconteceu.
Eu não li o livro de Dostoievski que inspirou esse filme, mas soube que seu nome, Noites Brancas, deve-se ao fenônemo que ocorre no verão das regiões perto dos pólos, quando o sol não se põe durante algumas noites. O livro se passa justamente durante essas "noites" claras, brancas, portanto, de São Petersburgo, na Rússia. No filme as noites não são brancas, mas ao contrário, são escuras e frias. Mais pro final neva (será a noite branca?), e senti que Sanjay fez um certo resgate do momento poético da neve que ele já havia feito em Black. E depois de saber que o livro originalmente se passa em São Petersburgo, entendi muito melhor a cidade fictícia criada para o filme, totalmente europeia, além de ter uns certos canais no meio, à la Veneza, com direito a gôndolas e tudo - São Petersburgo é chamada de "A Veneza da Rússia".
E fiquei sabendo, depois, de uma outra curiosidade importante: Sanjay Leela Bhansali é grande admirador da obra do finado Raj Kapoor, considerado por muitos o "Chaplin da Índia", e que, portanto, a primeira cena do filme seria uma homenagem à obra Barsaat (1949), que consagrou Raj Kapoor. Além disso, o bar "RK" é uma homenagem direta a ele. Não só bastasse isso, Ranbir Kapoor é nada mais que seu neto.
E se tinha momentos no filme que eu ficava mais feliz que o normal era quando aparecia Lilipop, a velhota dona da pensão, que era uma graça. Infelizmente ela não aparece tanto, mas gostei muito de vê-la.
O filme não fez tanto sucesso na Índia, embora no exterior tenha sido bem recebido. Foi a primeira produção de Bollywood a ser coproduzida por um estúdio de Hollywood, a Sony Pictures Entertainment. Quando lançado, produtores de Kollywood acusaram Sanjay Leela Bhansali de estar plagiando o filme tamil Iyarkai, mas a acusação não se sustentou pois os filmes são muito diferentes. No entanto, ambos eram baseados no mesmo livro Noites Brancas, obviamente justificando alguma semelhança.
E vejam o trailer do filme a seguir.
Colaborou: Barbarella