quarta-feira, 27 de maio de 2009

Plágios no cinema indiano

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Recentemente o nosso blog Cinema Indiano foi vítima de um sério caso de plágio por um outro blog sobre Bollywood em língua inglesa. Este outro blog era quase inteirinho composto por textos retirados do Cinema Indiano, que eram traduzidos integralmente em algum tradutor online qualquer, sem que o dono do blog plagiador se preocupasse em adaptar os textos ao contexto dele, nem nada do gênero. O absurdo chegou ao ponto de ao menos duas postagens citarem a professora Sandra Bose, do blog Indi(a)gestão. E foi por essa citação que a Sandra descobriu o plágio e não mediu esforços pra desfazer tal disparate, convocando inclusive seus leitores para encontrarmos uma solução a isso, já que aquele blog não tinha nem espaço para comentários e nem opção de contato com o dono.

No entanto, graças a essa mobilização toda, conseguimos descobrir o contato da empresa que hospedava aquele blog, além de descobrir que o dono era um indiano residente nos Estados Unidos. O resultado final da história é que todas as postagens dele foram removidas e o caso de plágio descarado foi concluído. E eu só tenho a agradecer o esforço de todos por isso!

Bom, mas quis pegar esse ocorrido para falar de um fato super recorrente no cinema indiano, que são justamente os plágios descarados (ok, eu digo só sobre o cinema, porque é esse meu tema, mas o fato é que em também muitos outros níveis o plágio ocorre na Índia).

Os indianos raramente têm acesso a conteúdos culturais que venham de fora de seu país, mas mesmo que tenham será de músicas e filmes estadunidenses, se tanto. O fato é que muitos, mas muitos filmes produzidos na Índia copiam - às vezes na íntegra - filmes feitos em outros países. Se não copiam, baseiam-se em, refazendo o roteiro para o contexto indiano. E na maior parte das vezes, se não for sempre, a inspiração não é citada, como se o produto final fosse totalmente original. Eu lembro-me de uma exceção, que é o filme Black, que inspira-se na vida real de Helen Keller e diz isso logo no começo do filme.

O filme Ghajini, por exemplo, agora o maior sucesso de bilheteria da história de Bollywood, é uma refilmagem do filme de mesmo nome feito no Tamil Nadu e que, por sua vez, é cópia do filme estadunidense Amnésia. No próprio Ghajini, uma cena com Kalpana ainda no começo do filme é cópia descarada de uma cena do filme francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Em Koi... Mil Gaya há relações diretíssimas com o famosíssimo filme ET, de Spielberg, embora a história seja outra. Os produtores do filme Hari Puttar foram processados pela Warner Bross pela semelhança com o nome Harry Potter, embora o filme seja infinitamente mais semelhante com o famoso Esqueceram de Mim, com Macaulay Culkin.

Enfim, são alguns exemplos que não necessariamente desmistificam a famosa criatividade indiana, mas que ao menos os colocam numa posição de cultura um tanto "antropofágica", se é que posso assim dizer. No fim das contas isso não é de todo negativo, mas essa característica pode ter sua sombra; e ninguém gosta da sombra.

E só pra deixar um exemplo interessante de cópia no cinema indiano, a Sandra Bose me passou uma música do filme Ghayal, de 1990, que é plágio de uma lambada do extinto grupo franco-brasileiro Kaoma. A música copiada chama-se "Lambada" mesmo, e a cópia chama-se "Sochna Kya Jo Bhi Hoga Dekha Jaayega". O filme Ghayal foi o mais premiado no Filmfare Awards do ano. Abaixo vão ambos os vídeos:





Colaborou: Sandra Bose.

8 comentários:

Iseedeadpeople disse...

Mas Ibirá, vc também me plagiou rsrsrsrsrsrsr!!! Eu já havia feito um post sobre a lambada de Ghayal!!!

http://emformol.blogspot.com/search/label/Ghayal

bárbara disse...

Aaaaaaaargh!!!!! Que descaramento! Essa música tá igualzinha à Lambada, sem tirar nem pôr!

Indi(a)screet disse...

Depois de 10 anos morando na India, ja sei tudo o que vc escreveu neste post, portanto o mais interessante para mim foi assistir ao video do grupo Kaoma, pois eu NAO conhecia. Eu so conhecia o plagio indiano.
Incredible Indianos Plagiadores!
Om Shanti

Ibirá Machado disse...

Hahahaha, mas Sheila, nesse caso eu juro que isso não se chama plágio, mas sim convergência de conteúdo! (hahaha, aprendi a malandragem com os indianos! hehe, brincadeira, eu não sabia mesmo que você também tinha já falado sobre essa mesma lambada! Sóri, sóri!)

bárbara disse...

Digam-me uma coisa, a Lambada também foi gigantesca aí no Brasil ou foi só na Europa? Eu não sabia que eles eram franco-brasileiros :P

Ibirá Machado disse...

Não digo que tenha sido gigantesca, mas a Lambada é um ritmo musical que surgiu justamente aqui no Brasil, no estado do Pará, na década de 70. A questão é que nós sempre tivemos vários outros ritmos musicais autóctones, então a própria febre da lambada esteve mesclada com outros sucessos da época.

Quanto ao grupo Kaoma, ele é na verdade francês, mas a vocalista era brasileira (por isso muitas das músicas, como essa dessa postagem, eram cantadas em português). E foi graças ao Kaoma que a lambada saiu do Brasil e ganhou o mundo.

bárbara disse...

Pois eu recordo-me da minha infância, de ter aí uns 11 anos, e a qualquer festa que fosse passavam Kaoma até à exaustão.
Era uma oportunidade que os mais "crescidos" viam de dançar agarrados. Eu achava uma sem-vergonhice :P :P :P
Nessas mesmas festas passavam também coisas como Depeche Mode e The Bangles. Odiei os anos 80 :(

Descobri que há também quem considere que o original desta canção é o boliviano Llorando Se Fue!! :D

Ibirá Machado disse...

Década de 80 = Década Perdida

Mas eu nasci no meio dela, não tenho muitas recordações... de qualquer forma, o povo brasileiro sempre foi muito sem vergonha mesmo, então qualquer ritmo é ritmo pra dançar agarradinho... haha...

E pois é, eu li também sobre Llorando se Fue. Pelo que entendi, a letra é a mesma, traduzida ao português, e adaptado no novo ritmo. Mas não fui conferir se é isso mesmo. :p